sexta-feira, 2 de outubro de 2009

[festival do rio 2009: boletim 3]

Abraços Partidos
Los Abrazos Rotos, 2009
Pedro Almodóvar


Juro que esperava de Abraços Partidos o oposto do que ele realmente é. Havia imaginado um filme ultra-pretensioso, que investisse em um excesso de metalinguagem (por ter o próprio mundo do cinema como um de seus temas centrais), possuindo uma narrativa de difícil apreensão – o que, imaginei, talvez explicasse a recepção morna ao filme de Almodóvar. Pois o que vi foi justamente um trabalho extremamente simples, uma mistura de suspense ao estilo Brian De Palma (em alguns momentos é quase impossível não lembrar-se de Dublê de Corpo e Vestida para Matar) com algumas pitadas de comédia almodovariana, onde nada é difícil de se compreender, havendo até mesmo um excesso de clareza narrativa. E confesso que, nesse sentido, gostei do que vi. Abraços Partidos acabou sendo uma boa surpresa. Entretanto, o filme tem lá seus problemas, sendo a irregularidade o maior deles: se em seu início, com suas primeiras idas e vindas no tempo, tudo funciona maravilhosamente bem, lá pelo meio da história as coisas se perdem um pouco, e a resolução do triângulo amoroso apresentada por Almodóvar não deixa de ser um tanto decepcionante. Da mesma forma, tudo envolvendo o personagem Ray-X é tratado com pouco cuidado, e algumas revelações já próximas ao epílogo, feitas por Blanca Portillo, soam demasiadamente didáticas, forçadas, e mesmo melodramáticas (no caso da última delas, a seu filho). Apesar de ser um admirador do cinema de Almodóvar especialmente quando este assume um tom mais sério, a partir de Carne Trêmula (chegando a seu melhor trabalho em Fale com Ela), curiosamente, achei que nesse Abraços Partidos os grandes momentos ficam por conta do lado cômico do diretor – é o velho "jovem Almodóvar" dando sinais de vida, e lembrando-nos do quanto ele ainda sabe arrancar risos da platéia. No fim das contas, esse acaba sendo o menor filme dele desta década – o que também não chega a ser exatamente um problema, levando-se em conta a qualidade de seus outros trabalhos produzidos nesse período.

P.S.: É impressionante como, a cada dia que passa, Penélope Cruz não só evolui como atriz (especialmente quando atua em espanhol) como se torna mais e mais linda.

4 comentários:

Anônimo disse...

Esperava mais, mas seus comentários, ainda que não totalmente positivos, já me deixaram com água na boca. Amo tanto Almodóvar quanto Cruz.

Anônimo disse...

Também estava esperando bem mais do filme, mas mesmo assim achei muito bom... e realmente, Penélope está cada dia mais deslumbrante e segura como atriz... uma deusa.

Rafael Carvalho disse...

Inveja é a palavra. Aproveite o Festival meu caro, e vai contando as novidades! Boas expectativas por todos esses três filmes que você já comentou.

Wallace Andrioli Guedes disse...

De qualquer jeito, Wally e wichmovie, o filme vale a pena.
Rafael, valeu. Não estou aproveitando tanto quanto eu gostaria, por diversos motivos, mas, de qualquer forma, tem sido uma boa experiência.