domingo, 26 de setembro de 2010

[5x favela - agora por nós mesmos]

5x Favela - Agora por Nós Mesmos
5x Favela - Agora por Nós Mesmos, 2010
Wagner Novais & Manaíra Carneiro, Rodrigo Felha & Cacau Amaral, Luciano Vidigal, Cadu Barcellos, Luciana Bezerra


Quando o primeiro 5x Favela foi lançado, em 1962, o cinema brasileiro vivia um estágio bastante especial. Começava a despontar aquele que seria o mais importante movimento cinematográfico do país, o Cinema Novo, e a coletânea de curtas trouxe trabalhos iniciais de alguns daqueles que se destacariam neste movimento: Joaquim Pedro de Andrade, Leon Hirszman e Carlos Diegues. Produzido sob os auspícios do Centro Popular de Cultura (CPC) da União Nacional dos Estudantes (instituição imbuída naquele momento em produzir uma arte que trouxesse valores nacionais e populares, contribuindo para a conscientização das massas e, logo, para uma futura revolução socialista), 5x Favela estava marcado profundamente por esta ideologia: era um filme que trazia tudo aquilo que depois seria duramente criticado pelos opositores desse tipo de arte "populista", uma visão paternalista do povo que, ao mesmo tempo, subestimava este, dando aos intelectuais de classe média (cineastas de esquerda entre eles) a tarefa de guiá-lo, conscientizá-lo.
Por isso, o subtítulo dessa nova versão (que tem Diegues entre seus produtores), Agora por nós mesmos, é tão sintomático. O novo 5x Favela é um filme absolutamente diverso, primordialmente por estabelecer diálogo intrínseco com o tipo de cinema "de comunidade" que se faz hoje no Brasil. Um cinema que se afasta cada vez mais dos "grandes temas", dos olhares mais totalizantes e explicativos da realidade de desigualdade do país para tentar se aproximar das questões cotidianas das pessoas que vivem nas periferias das grandes cidades brasileiras. Não há a pretensão de explicar a pobreza, mas sim de torná-la uma experiência de vida cotidiana, com momentos de dor e de prazer, contada por pessoas que a conhecem de perto. É nesse caminho que vão os três melhores segmentos do filme, o despretensioso "Acende a Luz", de Luciana Bezerra, o terno "Arroz com Feijão", de Rodrigo Felha e Cacau Amaral (que lembra em alguns momentos "Couro de Gato", o curta de Joaquim Pedro que compunha o projeto original), e o belíssimo "Deixa Voar", de Cadu Barcellos. São todos filmes simples, despretensiosos, mas que cativam pela delicadeza, especialmente no caso de "Deixa Voar", representantes de um tipo de cinema que esses jovens diretores da periferia carioca parecem dominar muito bem.
Em contrapartida, é justamente quando esses cineastas tentam abordar temas mais amplos, como a violência e o tráfico ("Concerto para violino", de Luciano Vidigal) e a desigualdade econômica ("Fonte de Renda", de Manaíra Carneiro e Wagner Novaes), que 5x Favela desanda. Esses trabalhos soam desajeitados, fora do lugar, além de absolutamente mal resolvidos (a conclusão de "Fonte de Renda", por exemplo, é de uma preguiça irritante). E essa é uma perda importante para o nosso cinema: cada vez mais parecemos menos capazes de enxergar os macro-problemas da nossa sociedade sem ter de apelar para lugares-comuns, para moralismos ou para saídas que flertam com posições mais reacionárias (à lá Tropa de Elite, mas que não é o caso aqui).