terça-feira, 27 de dezembro de 2011


[tudo pelo poder]

Tudo pelo Poder 
The Ides of March, 2011
George Clooney


Tudo pelo Poder é a confirmação da vocação de George Clooney para o cinema político. Depois do equivocado O Amor Não Tem Regras (inesperada involução numa carreira ascendente), o diretor retorna à lógica de seu bem-sucedido (e ainda melhor trabalho) Boa Noite e Boa Sorte: fez um filme pequeno, redondo, bem escrito, com uma narrativa alicerçada sobre diálogos afiados - que retratam um mundo cheio de terminologias próprias sem nunca deixar de ser claro para o espectador - e grandes atuações de seu elenco (com especial destaque para Ryan Gosling e Phillip Seymour Hoffman). Cinema político que nunca perde de vista o elemento humano. A Clooney parece interessar, sobretudo, os efeitos da política sobre a vida das pessoas (em Boa Noite e Boa Sorte, o diretor tratava das consequências devastadoras da perseguição empreendida pelo senador Joseph McCarthy sobre um determinado grupo de personagens; aqui, o foco está no poder corruptor da política, mesmo sobre os sujeitos mais idealistas).
Tudo pelo Poder é tenso, envolvente, assustador na forma como apresenta uma disputa quase fratricida dentro do Partido Democrata norte-americano. É um filme carregado de cinismo em seu olhar para a lógica que move as disputas eleitorais nos EUA e para os possíveis efeitos transformadores da política em uma sociedade: não parece haver, em toda sua narrativa, uma brecha que nos permita acreditar que mesmo uma figura liberal e progressista como Mike Morris faria algo de realmente diferente na Presidência do país (ecos de Obama?). E o processo de construção desse olhar é conduzido de maneira exemplar por Clooney: a sensação é de que tudo está em seu devido lugar em Tudo pelo Poder - o que, claro, pode ser visto também como um problema. Não há rompantes de ousadia, nem espaço para brilhantismo, mas o filme de Clooney é perfeito em sua total correção.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011


[trabalhar cansa]


Trabalhar Cansa 
Trabalhar Cansa, 2011
Juliana Rojas e Marco Dutra


O que mais impressiona em Trabalhar Cansa é a fluidez com que seus diretores trafegam entre o drama familiar e o horror macabro. Melhor: o horror macabro é aqui, parte componente fundamental do drama familiar, mas não no sentido comum de tantos filmes que buscam apenas gerar medo no espectador - o desespero existencial em que vivem aqueles personagens é concretizado, em tons alegóricos, nos momentos de horror do filme. 
Tudo muito bonito e sofisticado, mas com forte propensão para o fracasso, não fossem as mãos firmes de Juliana Rojas e Marco Dutra, que constróem uma narrativa baseada no mínimo, em pequenos momentos intimistas que acentuam, aos poucos, o inferno em que mergulham os protagonistas de Trabalhar Cansa. O desemprego, a busca por um novo empreendimento, o casamento estável que flerta com o tédio, as relações trabalhistas com a empregada doméstica... há um indefinível descompasso nisso tudo, no verniz de civilidade que rege toda a existência em sociedade (daí a força gigantesca da apoteótica cena final, que também coroa o desempenho brilhante de Marat Descartes). Descompasso que, justamente por ser indefinível, é sabiamente manifesto no filme através do estranho, do macabro, do sobrenatural, de uma maneira que gera incômodo por si só, ao mesmo tempo que torna o drama dos personagens insuportavelmente intenso. Apavorante como filme de horror e poderoso enquanto drama familiar/social, Trabalhar Cansa é o grande filme que é por conseguir, com tamanha propriedade, fazer desses dois gêneros uma coisa só. 

terça-feira, 20 de dezembro de 2011


[o garoto da bicicleta]


O Garoto da Bicicleta 
Le Gamin au Vélo, 2011
Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne


Ainda que pelos caminhos tortuosos do cinema dos irmãos Dardenne, O Garoto da Bicicleta é um filme profundamente otimista. Não que não se trate de uma narrativa dura com seus personagens, como costumeiramente ocorre na filmografia dos diretores, mas aqui, diferentemente do que fizeram em obras como Rosetta e A Criança, os Dardenne parecem apontar para um possibilidade de fuga, de salvação. E, surpresa, esta surge através do amor, do incondicional amor de uma mulher solitária por uma criança - vividos, respectivamente, pelos maravilhosos Cécile de France e Thomas Doret.
Pelos olhos dos diretores, no entanto, essa história é contada, como seria de se imaginar, sem um pingo de melodrama: estão presentes a estética (neo?)realista (como não pensar nisso diante da importância dada a uma bicicleta?), a câmera na mão, a narrativa seca, o trato brutal com os personagens. O respiro nisso tudo surge em pequenos, mas importantes, detalhes, como o uso pontual da música (algo pouco comum nos filmes dos diretores), mas, principalmente, na sequência final de O Garoto da Bicicleta. Ali, os Dardenne parecem estar no limiar entre dar o rumo esperado (ao menos por aqueles que conhecem um pouco o cinema dos irmãos belgas) para seu protagonista ou apontar para um novo caminho, e a forma como a transição entre essas duas opções ocorre é impactante justamente por sua sutileza e naturalidade. E, no fim das contas, não é melhor mesmo que seja assim?

sábado, 19 de novembro de 2011


[o palhaço]

O Palhaço
O Palhaço, 2011
Selton Mello


O Palhaço é um filme, digamos, "tchuco". Apesar de seguir num registro melancólico, Selton Mello constrói aqui uma narrativa bastante diferente da de Feliz Natal, sua pesada estreia na direção de longa-metragens. Há uma contagiante doçura no olhar que o diretor lança sobre as figuras que povoam seu filme, realçando para o espectador o forte senso de família que une aqueles personagens. No cinema brasileiro, talvez a referência mais próxima seja a Caravana Rolidei de Bye Bye Brasil (ainda que o filme de Diegues me pareça bem mais pessimista); internacionalmente, penso, num primeiro momento, na trupe de dançarinas de cabaré e seu empresário, do recente Turnê, de Mathieu Amalric. Trata-se da velha história do grupo de personagens mambembes, maltrapilhos, destruídos pela vida, que encontram no convívio com eles próprios razões para seguir adiante, para enxergar felicidade em condições de existência bastante degradantes.
O centro emocional de O Palhaço é Benjamin/Pangaré, personagem interpretado com esmero pelo próprio Selton Mello. Sua tristeza transbordante serve como uma espécie de respiro para o espectador diante de tamanha miséria mostrada - já que tamanha melancolia significa, na verdade, inconformismo, ainda que parcamente manifestado. A trajetória dos componentes do circo Esperança é pontuada por episódios e figuras bizarras - a começar pelos próprios personagens, quase todos próximos de uma representação tragi-cômica/grotesca -, e é, portanto, totalmente identificável para o espectador a vontade que Benjamin sente de largar aquela vida. O filme parece ser todo pontuado por essa tensão: desejo de mudança do protagonista versus reconhecimento do amor que perpassa as relações entre aqueles personagens. E a forma como Selton resolve esse embate é, ainda que óbvia, dotada de imensa beleza. A sequência final serve para nos lembrar que, no fim das contas, é com os nossos iguais que podemos mesmo contar - e poucos momentos no cinema esse ano foram tão tocantes quanto aquele do reencontro entre os personagens de Mello e do grande Paulo José: numa troca de olhares e num tocar de narizes de palhaço, parece caber todos os sentimentos do mundo.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

A Árvore da Vida



A Árvore da Vida é o filme mais difícil de Terrence Malick e não há nenhuma surpresa nisso. Se quando tratou de grandes eventos históricos (em Além da Linha Vermelha e O Novo Mundo) o diretor já construíra trabalhos de complicado acesso para um público acostumado com um cinema puramente narrativo, ao tomar como tema a existência humana e seus muitos porquês Malick se permite todo tipo de devaneio - chegando ao ápice de filmar a origem da vida numa belíssima e devastadora sequência que acaba por produzir, num primeiro momento, uma incômoda sensação de pequenez do drama mostrado diante da grandiosidade do poder de criação e destruição da natureza (ou seria de Deus?).

Mas Malick é um humanista e seu interesse é primordialmente a vida humana. Daí a dedicação de sua câmera aos personagens que povoam A Árvore da Vida pelo resto de sua duração ser tão impressionante: ela se move com eles, se aproxima, parece encantada por aqueles pequeninos seres vivos que, em sua estranha complexidade, são absolutamente únicos. A delicadeza com que o diretor acompanha o cotidiano de uma família no Texas da década de 1950, sob os olhos de um dos filhos que a compõem, é típica de seu cinema - Malick parece ter um grande carinho por aqueles personagens, e mesmo a figura do pai autoritário interpretado por Brad Pitt exala amor e preocupação (de seu próprio modo) pelos seus.

Esse momento intermediário de A Árvore da Vida, que vai do pós-origem da vida até as proximidades da sequência final, é o de mais fácil apreensão - ainda que não estejamos falando de uma narrativa clássica, tradicional, e que esse longo trecho seja permeado pelo uso escasso de diálogos e pelo off carregado de reflexões filosóficas que tanto marcaram os últimos filmes do diretor (na verdade, se bem me lembro, apenas Terra de Ninguém não é composto dessa forma). Bem, talvez "fácil" não seja o melhor termo a ser usado aqui... já o todo do filme é praticamente impossível de ser apreendido e devidamente apreciado assim, numa tacada só. Me lembro de ter precisado assistir Além da Linha Vermelha (ainda meu favorito de Malick) três vezes até entender toda sua força - o que certamente significa que ainda tenho algumas revisões de A Árvore da Vida pela frente. Por enquanto, o que fica é a impressão (e só isso) de um filme muito, muito bonito.


A Árvore da Vida 
The Tree of Life, 2011
Terrence Malick

terça-feira, 18 de outubro de 2011


[thor]

Thor
Thor, 2011
Kenneth Branagh


Não é fácil encontrar a mão de Kenneth Branagh em Thor. Juro que tentei. Talvez o caminho mais óbvio seja procurá-la no tom meio shakespeareano dado à relação do protagonista com seu pai e com seu irmão, mas ainda assim me parece muito pouco - o outrora aclamado Branagh é mesmo aqui somente um diretor de aluguel.
Não que isso transforme Thor em um filme ruim, pelo contrário. Seguindo o recém-estabelecido "padrão Marvel" (ou padrão The Avengers) de qualidade, o filme do Deus do Trovão tem lá seus méritos: trafega bem entre as duas dimensões em que sua história se desenrola, conseguindo tornar plausível uma trama intrinsecamente absurda, e se beneficia enormemente do carisma de seu ator principal, Chris Hemsworth, que constrói um Thor adorável em sua arrogância. É um filme rápido, bem produzido (não só tecnicamente, mas também na construção de um roteiro amarrado e na oferta de desempenhos convincentes por parte de seus atores), divertido, com tudo no lugar (ainda que o desperdício de Natalie Portman em um papel extremamente bobo seja um crime digno de punições severas). Mas reside aí também a sua (e de todos os filmes que confluirão para The Avengers) maior limitação: tal qual Homem de Ferro (1 e 2), O Incrível Hulk e Capitão América, Thor não consegue ir muito além do agradável. O que nos leva novamente à decepção gerada pela presença inócua de Branagh na direção.
Com liberdade autoral, talvez o diretor fizesse simplesmente algo como o Hulk de Ang Lee, típico filme bom que ninguém gosta, mas ao menos veríamos na tela algum traço do sujeito que entregou, só para citar um exemplo, aquela que é provavelmente a melhor versão de Hamlet para o cinema. Do jeito que foi feito, Thor poderia ter sido comandado por qualquer Jon Favreau, Louis Leterrier ou Joe Johnston da vida...

segunda-feira, 26 de setembro de 2011


[namorados para sempre]

Namorados para Sempre
Blue Valentine, 2010
Derek Cianfrance


Há coisas que desejamos que nunca acabem, mas que acabam mesmo assim. É da consciência dessa finitude do que às vezes parece infinito que Namorados para Sempre retira sua maior força. Trata-se de um filme duríssimo sobre o passar dos anos em um relacionamento, sobre o peso da rotina da vida a dois em um casamento aparentemente fadado ao eterno sucesso, com desempenhos impressionantes de seu casal de protagonistas, Ryan Gosling e Michelle Williams (inexplicavelmente, só ela foi indicada ao Oscar quando, na verdade, vem dele a presença mais marcante em cena). Mas essas coisas do amor, às vezes, simplesmente acabam. Está aí o grande problema do título que o filme de Derek Cianfrance recebeu no Brasil: para além do equivocado tom de romantismo que se pretendeu passar (algo pouco condizente com o pessimismo que predomina na narrativa, ainda que haja momentos que beiram o sublime), a questão é que não há "para sempre" aqui. Blue Valentine é sobre os pontos finais e não sobre as reticências. Por isso é tão doloroso assiti-lo.
Acompanhar o personagem de Gosling cantando (uma triste canção que, na verdade, antecipa o que ocorrerá no final do filme: "you always hurt the ones you love, the ones you shouldn't hurt at all...") para Williams enquanto esta dança, numa belíssima cena de comunhão e cumplicidade, para depois vê-los em discussões carregadas de palavras duras não é nada fácil. Assistir a dois personagens transbordantes de humanidade, sem nenhum pingo de vilania, se machucarem mutuamente em tentativas vãs de recuperar um amor perdido é de cortar o coração - acaba surgindo uma identificação maior com o personagem de Gosling, não só por representar o lado masculino da relação (identidade de gênero, sabem como é...), mas também por ser ele o que mais se esforça para manter a relação do casal de pé e, consequentemente, o que sofre mais violentamente o baque da separação. Mas o mais difícil é ver aquele sujeito indo embora, agora sim, para sempre - é quando Blue Valentine se firma como uma espécie de anti-(500) Dias com Ela. Pois a lembrança do que foi nunca é suficiente para suplantar o vazio do que fica. E não há redenção alguma nisso.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011


[capitão nascimento no oscar 2012?]


Ontem foi anunciada pela Ancine a escolha de Tropa de Elite 2 como representante do Brasil para tentar uma vaga na categoria "filme estrangeiro" no próximo Oscar. Acho pouco provável que a obra-prima de José Padilha emplaque a indicação: apesar de ser um filme policial-social que dialoga com imensa propriedade com clássicos do gênero, como Sindicato de Ladrões e Serpico, Tropa de Elite 2 padece do mal de ser uma sequência - e, ainda por cima, de um filme que, ao que parece, foi pouco visto em terras norte-americanas, e, quando visto, bastante criticado.
Mesmo assim, a escolha me pareceu bastante acertada. Diante de uma seleção fraca, composta por obras menores que dificilmente teriam alguma envergadura para competir numa seleção como essa (Bruna Surfistinha e Vips, os únicos que assisti da lista de possíveis candidatos além de Tropa 2, são bons filmes, mas não coloco minha mão no fogo por Assalto ao Banco Central, As Mães de Chico Xavier, Federal, Família Vende Tudo, entre outros), ao menos fez-se a opção por um grande filme. E ter a certeza de que o Brasil será representado por cinema de alto nível na disputa pelos Academy Awards, depois de Lula, o Filho do Brasil, Salve Geral e Última Parada 174, já dá uma pontinha de orgulho.

sábado, 17 de setembro de 2011


[fernanda de beauvoir]


Qualquer cinéfilo que se preze nutre alguma admiração pela figura de Fernanda Montenegro. E nem estou falando de seu trabalho em Central do Brasil, que a tornou mundialmente famosa - muito antes do filme de Walter Salles, lá estava a atriz em A Falecida, Tudo Bem, Eles Não Usam Black-Tie... aquela cena dos feijões, com Gianfrancesco Guarnieri, no filme de Leon Hirszman, é uma das coisas mais lindas que o cinema brasileiro já produziu. 
Mas foi o teatro que me presenteou com a chance de ver essa gigante de perto: em Viver Sem Tempos Mortos, peça dirigida por Felipe Hirsch, ela mergulha fundo na trajetória de Simone de Beauvoir, e emerge com uma simples mas emocionalmente potente mirada sobre a biografia da escritora - particularmente sua história de amor com Jean-Paul Sartre. Estar a alguns poucos metros de Fernanda Montenegro é uma experiência um tanto assustadora. Mas o nó na garganta deixado ao fim do espetáculo é responsabilidade de uma outra mulher ali presente, que poderíamos chamar de Fernanda de Beauvoir.

domingo, 11 de setembro de 2011


[melancolia]

Melancolia
Melancholia, 2011
Lars von Trier


Perdido em algum lugar entre Festa de Família e Anticristo, Melancolia é um filme admirável de Lars von Trier. Em sua primeira metade - após um impressionante prólogo com câmera hiper-lenta no mesmo estilo de seu filme imediatamente anterior -, parece um mezzo retorno do diretor ao Dogma 95. Câmera na mão para registrar uma festa de casamento, que em muito lembra aquela reunião familiar do inesquecível filme de Thomas Vinterberg - não fossem os inúmeros rostos conhecidos em cena (Kirsten Dunst, Charlotte Gainsbourg, Kiefer Sutherland, John Hurt, Charlotte Rampling, Stellan Skarsgard, Udo Kier) e seria possível acreditar em uma reaproximação de von Trier com o movimento que o tornou célebre. A parte 1 de Melancolia é visceral e pessimista em seu olhar sobre as relações familiares, alicerçada sobre o impressionante desempenho de Dunst, que exala uma desesperadora tristeza em cada pequeno gesto de sua personagem. De cortar o coração também é a figura do noivo, vivido por Alexander Skarsgard, com suas inúmeras e inócuas tentativas de fazer da Justine de Dunst uma mulher "normal", enquadrada nas normas sociais que uma ocasião como aquela costuma exigir.
Já a segunda metade, mais centrada em Charlotte Gainsbourg, é o momento em que Melancolia se assume como (na falta de melhor definição) "filme-catástrofe". Mas, que fique bem claro, um filme-catástrofe de Lars von Trier - não há espaço para fãs de Roland Emmerich aqui. O cineasta dinamarquês mantém sua câmera (agora bem menos inquieta) no mínimo, no cotidiano de quatro personagens à espera da passagem do tal planeta que dá nome ao filme diante da Terra, e extrai deles momentos que vão do desesperador (no auge da depressão, a personagem de Dunst parece saída diretamente de Gritos e Sussurros) ao sublime (a cena final). Cena final, aliás, que explode na tela de forma acachapante, encerrando o doloroso painel da condição de pequenez humana apresentado por von Trier. O efeito, especialmente para quem compartilha do pessimismo do diretor com relação a existências para além deste mundo (meu caso), é devastador.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Planeta dos Macacos: A Origem



Ainda que ache O Planeta dos Macacos (o clássico, com Charlton Heston, Kim Hunter e a Estátua da Liberdade) um bom filme, não consigo enxergar nele a obra-prima cultuada por tanta gente – talvez a obra de Franklin J. Schaffner tenha simplesmente envelhecido mal, como, aliás, outros trabalhos desse diretor que nunca me encantou (Patton e Papillon, por exemplo). Além disso, nunca me dei ao trabalho de assistir suas continuações, e a refilmagem comandada por Tim Burton e protagonizada por um insosso Mark Wahlberg é bem meia-boca mesmo (só o visual dark e o vilão de Tim Roth valem a pena). Por tudo isso, esse aparentemente desnecessário Planeta dos Macacos: A Origem foi, para mim, uma agradável surpresa.

Independentemente de como ele se encaixa na cinessérie – há referências ao primeiro filme ao longo de sua narrativa, tanto na retomada de alguns diálogos ("Take your stinking paws off me you damn dirty ape!", que é, aliás, o grande momento desse novo filme, invertendo de maneira esperta o impacto causado por essa mesma fala na boca de Charlton Heston há mais de 40 anos), quanto em citações a eventos que se relacionam diretamente com o que ocorre no longa de 1968 (o lançamento da primeira missão tripulada a Marte, a cena nos créditos finais) –, ou se é simplesmente um novo começo para esta, o filme de Rupert Wyatt (quem?) impressiona pela calma que tem ao desenvolver sua trama e seus personagens: cada pequeno detalhe que vá justificar a rebelião dos símios e a liderança desta pelo personagem de Andy Serkis está lá, colocado em seu devido lugar. Serkis que, por sinal, é um dos responsáveis diretos por aquele que é o maior mérito de Planeta dos Macacos: A Origem: Caesar. Em nada devendo à sua composição de Gollum em O Senhor dos Anéis e do gorila gigante de King Kong, o ator dá vida aqui a uma figura complexa basicamente através de suas expressões faciais e de seu gestual, um personagem que cativa desde sua primeira aparição, e que constrói, passo a passo, um domínio de cena absurdo, que faz com que seu poder no final do filme seja plenamente justificável. É impossível não se encantar com o Caesar de Serkis e desejar seguí-lo. Não que isso seja possível a nós, humanos - somos, na verdade, o inimigo a ser combatido. Infelizmente.


Planeta dos Macacos: A Origem 
Rise of the Planet of the Apes, 2011
Rupert Wyatt

segunda-feira, 29 de agosto de 2011


[farrapo humano, vício maldito e o alcoolismo no cinema]


Tenho hoje uma postura bastante liberal com relação ao consumo de bebidas alcoólicas (e de drogas, em geral), mas convivi em minha infância com dois casos de alcoolismo na família que me deram a medida da gravidade dessa doença. No cinema, o devastador Despedida em Las Vegas, de Mike Figgis, se tornou para mim, há algum tempo, o filme-referência no assunto. Posto que pode ser agora dividido, tranquilamente, com duas outras obras: Farrapo Humano e Vício Maldito (filmes que, curiosamente, receberam títulos no Brasil que, apesar de fiéis à temática que abordam, estragam completamente a sutileza dos originais The Lost Weekend e Days of Wine and Roses).
O primeiro é um melodrama poderoso do grande Billy Wilder, que, alicerçado sobre o fabuloso desempenho de Ray Milland, acompanha a descida ao inferno de seu protagonista com uma pujança que impressiona - vale dizer, 50 anos antes de Despedida em Las Vegas. Farrapo Humano é um filme bastante amargo, carregado de tristeza no retrato que faz de seu personagem central - um escritor frustrado que se entrega sem pudores ao álcool. Jane Wyman interpreta sua namorada e "anjo da guarda", que tenta a todo custo salvá-lo da degradação física e moral que vive, e há algumas cenas comoventes com o casal. Mas é mesmo Milland quem causa arrepios, em sequências perturbadoras como a do delírio dentro de casa e a caminhada desesperada por Nova York em busca de um trago.
Já em Vício Maldito, saímos do campo do melodrama tradicional para entrarmos num drama mais complexo, com personagens multifacetados. Dirigido pelo também grande (mas não tanto quanto Wilder) Blake Edwards, é um filme que demora um pouco a explicitar em sua narrativa o tema do alcoolismo: há uma grande preocupação em apresentar o envolvimento gradual de seu casal de protagonistas e como a bebida vai, aos poucos, entrando em suas vidas. Mas quando Edwards enfim mergulha no vício dos personagens de Jack Lemmon e Lee Remick, o resultado é um punhado de momentos memoráveis (a cena da estufa, o confronto no motel, a dolorosa sequência final). Lemmon é um monstro em cena, mas Remick é tão fundamental quanto ele para o êxito de Vício Maldito. Juntos, os dois protagonizam uma das mais tristes histórias de amor que o cinema já contou.



Farrapo Humano  
The Lost Weekend, 1945
Billy Wilder

Vício Maldito 
Days of Wine and Roses, 1962
Blake Edwards

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Biutiful



Apesar de Alejandro González Iñárritu continuar mantendo uma relação de certo sadismo com seus personagens, o fim de sua parceria com Guilllermo Arriaga lhe fez muito bem. Biutiful, primeiro trabalho de Iñárritu pós-divórcio com seu roteirista de Amores Brutos, 21 Gramas e Babel, é um filme que, para começar, já tem um mérito gigantesco: não ser estruturado sobre histórias paralelas que, em algum momento, se cruzam. É muito bom ver o diretor concentrando suas energias em contar a história de apenas um protagonista, despejando em sua trajetória toda a visceralidade de seu cinema.

É verdade que grande parte do êxito de Biutiful se deve à presença assombrosa de Javier Bardem em cena - seu personagem, dotado de um misto de brutalidade e fragilidade, agressividade e ternura, é o retrato de um homem destroçado pela vida, e o ator compõe essa figura de forma econômica, evitando qualquer traço de exagero que pudesse descambar para o melodrama (Bardem é, aliás, nesse sentido bem mais cuidadoso nos caminhos dramáticos que trilha do que o próprio Iñárritu), tirando desse cuidado com o mínimo a força gigantesca de seu desempenho. Mas há de se dar os devidos créditos ao diretor, que consegue controlar seus impulsos megalomaníacos, sua vontade de mostrar o quanto pode ser "genial", para simplesmente contar uma bela e forte história - por mais que ele às vezes chegue perto de perder esse controle, como ao dar excessivo destaque à história dos comerciantes chineses (mais um pouquinho ali e teríamos duas grandes narrativas se cruzando, como nos velhos tempos...), ou ao retornar, desnecessariamente, a uma das cenas iniciais para encerrar o filme (subestimando a capacidade do espectador de entender, com o desenrolar da trama, quem era aquele jovem que surgira no início dialogando com o personagem de Bardem).

No final, porém, o saldo é mesmo positivo: Biutiful é um ótimo filme. Se Guillermo Arriaga não tivesse escrito também aquela obra-prima dirigida por Tommy Lee Jones chamada Três Enterros, talvez até fosse possível dizer que estava somente em Iñárritu o talento por trás dos trabalhos da dupla.


Biutiful 
Biutiful, 2010
Alejandro González Iñárritu

quinta-feira, 18 de agosto de 2011


[super 8]

Super 8
Super 8, 2011
J.J. Abrams


Filmes nostálgicos costumam ser pequenas pérolas. Ter J.J. Abrams dirigindo uma trama de suspense que remete diretamente a Contatos Imediatos do Terceiro Grau, E.T. - O Extraterrestre e Os Goonies era praticamente certeza de "filme mais delicioso do ano". Mas, por algum motivo, Super 8 não consegue concretizar o que prometia, apesar de chegar bem perto disso.
O maior mérito de Abrams está no tratamento dado a seus protagonistas mirins. Assim como as crianças de Os Goonies e E.T., os pequenos de Super 8 são o motor do filme: adoráveis, espertos, donos de diálogos memoráveis, mas sempre crianças, nunca além disso. Elle Fanning é o inevitável destaque, mas Riley Griffiths e Joel Courtney também são descobertas preciosas feitas por Abrams. As relações entre esses personagens e deles com suas respectivas famílias tornam Super 8 um filme emocionalmente cativante - e mesmo doloroso, no caso do personagem de Courtney. O diretor traz, no melhor estilo Spielberg, a família para o centro de uma trama de mistério e ficção-científica, e torna tudo muito mais emocionante. Talvez seja preciso ter crescido assistindo E.T. para se emocionar com a cena final do cordão, não sei. Em mim, funcionou muito bem.
O que atrapalha Super 8 e o impede de se tornar memorável é o tal mistério em si. Tomando Spielberg como base, Abrams poderia seguir Tubarão, e esconder seu monstro o máximo possível, fazendo dele um vilão abominável quando finalmente surgisse na tela, ou E.T., mostrando o alienígena a todo tempo, humanizando-o e tornando os humanos (adultos, claro) os verdadeiros vilões da história. No entanto, o diretor parece querer fazer as duas coisas, e aí seu filme sai dos trilhos (não, isso não foi um trocadilho). A ameaça que demoramos a ver cria uma expectativa que é frustrada quando, enfim diante de nossos olhos, o monstro de Super 8 passa por um não muito bem-sucedido processo de humanização. Não nos importamos suficientemente com ele, e nem o tememos como talvez devêssemos temê-lo.

domingo, 14 de agosto de 2011


[capitão américa: o primeiro vingador]

Capitão América: O Primeiro Vingador
Captain America: First Avenger, 2011
Joe Johnston


Apesar de ter uma vaga, e negativa, lembrança de ter assistido em minha infância o desastroso filme do Capitão América lançado no início da década de 1990, mantinha, há algum tempo, o interesse em reencontrar o personagem em uma grande produção, com qualidade técnica e narrativa, e elenco respeitável. Capitão América: O Primeiro Vingador é, ou deveria ser, a concretização desse interesse. Mas Joe Johnston ficou no meio do caminho - é o que dá contratar um cineasta apenas razoável para comandar um filme que poderia, dentro de suas limitações, ser ótimo.
O filme, na verdade, tem alguns acertos. O maior deles é ser fiel à origem do personagem, mantendo-o na década de 1940, no contexto da Segunda Guerra Mundial - é um momento em que fica muito mais fácil se identificar com um herói que carrega em seu uniforme a bandeira dos Estados Unidos, e o roteiro ainda brinca de maneira criativa com isso, justificando através da propaganda de guerra a escolha por tal uniforme (naquelas que são, provavelmente, as melhores cenas do filme). Toda a construção da narrativa em torno do surgimento do Capitão América, da obstinação do franzino Steve Rogers até sua entrada na guerra, é construída com a calma necessária - o que é muito bom -, mas entra aí aquele que é um problema cada vez mais comum em "filmes de origem" como esse: se tem-se um roteiro que se dedica a apresentar cada pormenor que justifica a existência do herói, tem-se, por outro lado, uma estranha dificuldade em criar uma trama minimamente interessante, com um vilão minimamente memorável. O Caveira Vermelha de Hugo Weaving é insosso, mas nem é culpa do ator. O roteiro de Capitão América: O Primeiro Vingador parece sabotar o personagem a todo momento, dotando-o de planos megalomaníacos difíceis de entender e que beiram o patético. Daí me pergunto: não seria simplesmente melhor deixar um vilão como esse (que é o maior inimigo do Capitão América) para uma possível sequência, e investir em antagonistas mais genéricos, que exigissem, pela sua natureza (genérica) um menor desenvolvimento dramático? Por que não, por exemplo, brincar ainda mais com o contexto da guerra e com a História, deixando simplesmente os nazistas como vilões (difícil não tomar como exemplo Os Caçadores da Arca Perdida, filme do qual, aliás, Capitão América parece desejar se aproximar, em determinados momentos)? E principalmente: por que submeter tanto os filmes da Marvel ao futuro longa dos tais Vingadores? Este terá de ser muito bom para justificar tantas oportunidades perdidas...

segunda-feira, 8 de agosto de 2011


[jackie brown]

Jackie Brown
Jackie Brown, 1997
Quentin Tarantino


Não é difícil encontrar quem considere Jackie Brown um filme menor de Quentin Tarantino. Diante da explosão de violência e cultura pop de Cães de Aluguel e Pulp Fiction, talvez o terceiro longa do diretor soe enfadonho, com seus diálogos longos e trama quase totalmente linear. É difícil, num primeiro momento, enxergar aqui a genialidade de seus dois filmes anteriores. Injustiça, das grandes - Jackie Brown é uma preciosidade a ser descoberta.
Sempre me encantou no cinema de Tarantino - dentre outras milhares de coisas - a calma com que o diretor conduz suas tramas. A atmosfera cool que envolve os personagens de Pulp Fiction, por exemplo, parece se estender para o ofício do próprio cineasta, que, em ritmo relaxado (mas nunca desleixado, sempre perfeccionista ao extremo), move seu filme adiante. E Jackie Brown talvez seja a obra em que essa característica fica mais evidente. Tarantino radicaliza a opção de inserir afazeres e diálogos cotidianos nas vidas de seus personagens (algo que já ocorrera de forma memorável em seus dois longas anteriores), desglamourizando totalmente tanto criminosos (como aqueles interpretados maravilhosamente por Samuel L. Jackson e Robert De Niro) quanto homens da lei (os personagens de Robert Forster e Michael Keaton, por exemplo). Desglamouriza, em certo sentido, seu próprio cinema. E compõe, a partir daí, um retrato meio-amargo de uma Los Angeles que, apesar de ensolarada, nada tem de "cidade dos sonhos".
Jackie Brown é o atestado de maturidade de Tarantino enquanto diretor de cinema (sua mise-en-scéne é primorosa), por mais que não seja seu melhor filme (mas nem está tão longe disso). Maturidade que se materializa, na trama, no relacionamento entre os personagens de Pam Grier e Robert Forster: dois adultos, castigados pela vida, que se interessam um pelo outro, sem grandes arroubos de loucura e paixão - e sem necessariamente concretizarem esse interesse. Quem esperaria de Quentin Tarantino uma das mais singelas e verdadeiras histórias de amor do cinema americano da década de 1990?

quinta-feira, 28 de julho de 2011


[de volta ao cálice]


Durante minha pesquisa de mestrado, sobre o filme Macunaíma, me deparei com algumas histórias curiosas da censura cinematográfica no Brasil. Uma delas, em especial, chamou minha atenção, não só por envolver diretamente meu objeto, mas também por seu conteúdo um tanto inusitado: Joaquim Pedro de Andrade, diretor de Macunaíma, relatando para o crítico e cineasta Alex Viany sobre como driblou os censores para lançar nos cinemas seu filme mais célebre. Nesse relato, Joaquim Pedro destaca que todos os comentários políticos (alegóricos) contidos em seu filme passaram despercebidos pela Censura, mas o mesmo não ocorreu com as cenas de nudez e sexo. O diretor negociou pessoalmente com um militar de alta patente, conhecido de sua família, e conseguiu a liberação mediante alguns cortes - justamente destas cenas. A história da censura cinematográfica em nosso país está cheia dessas quase anedotas, que explicitam o moralismo tacanho no qual estamos mergulhados.
Macunaíma é de 1969. Lá se vão mais de 40 anos, e, hoje, não existe mais censura à produção cultural no Brasil - o que existe é a classificação etária indicativa. Ou seja, não se proíbe mais a exibição de filmes no país, ou se exige que se façam cortes; o que cabe à justiça brasileira hoje é simplesmente determinar para qual faixa etária um determinado filme pode ser exibido. Bem, então o que explica o caso de A Serbian Film, o já famoso thriller sérvio que teve sua exibição proibida recentemente no Rio de Janeiro? Ah, essa é fácil: é o bom e velho moralismo de volta, meus queridos! Num país em que um juiz evangélico decide, a bel prazer, contrariar uma decisão da instância máxima do Poder Judiciário simplesmente porque acha que o homossexualismo é errado, é claro que uma outra juíza pode dar a si própria o papel de censora e amparar um pedido de proibição de exibição de um filme - pedido, aliás, feito pelo glorioso partido Democratas (DEM), aquele mesmo, que tem entre seus membros ilustres alguns velhos partícipes da Ditadura Civil-Militar. Sim, são eles, prontos para encampar uma nova "Marcha da Família com Deus pela Liberdade" para defender a família brasileira (que porra é essa?!) e os bons costumes. É lógico que a estratégia de tentar censurar A Serbian Film será um tiro n'água: a curiosidade em torno do filme só aumenta, e o número de pessoas que o assistirão será inevitavelmente maior do que seria caso nada disso tivesse acontecido, mas eu até entendo o DEM. Talvez faça parte de uma certa demarcação de território do partido, cada vez mais enfraquecido, uma tentativa de se aproximar de vez dos setores ultra-conservadores de nossa sociedade.
Não sei se A Serbian Film é um bom filme. Já li elogios rasgados, mas há também quem não veja nele nada demais. Talvez seja simplesmente um filme apelativo (assim como O Albergue e Jogos Mortais o são), talvez seja uma obra cinematográfica magnífica. Mas isso, agora, não importa realmente. O que importa mesmo são os caminhos perigosos pelos quais estamos trilhando. Além do mais, se nem o povo do DEM, nem seus advogados e nem a juíza que acatou a ação assistiram ao filme, eu também tenho o direito de vir aqui dar minha opinião. Foi-se o tempo em que os censores ao menos conheciam diretamente o que deveriam proibir...

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2



Dizer que a série Harry Potter amadureceu é chover no molhado. No entanto, é difícil, ao acompanhar seu encerramento, não lembrar daqueles dois filmes cheios de inocência dirigidos por Chris Columbus no início da década passada. Digo isso porque, na ocasião, encarava Harry Potter como um produto medíocre, diante da grandiosidade e força dramática de O Senhor dos Anéis, também em cartaz então. Tudo mudou. Os atores cresceram, os personagens cresceram, os filmes cresceram. E as sombras que vinham tomando conta do universo dos bruxos desde algum tempo, finalmente alcançam seu ápice em Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2.

É importante começar dizendo que o filme responsável por encerrar a saga que durou 10 anos nos cinemas é ótimo. Há momentos emocionantes, como seria de se esperar, e algumas cenas muito boas (a morte de Snape, o reencontro entre Harry e Dumbledore, a chegada Voldemort em Hogwarts e todas envolvendo Neville Longbottom). No entanto, há também alguns revezes. Se em Relíquias da Morte - Parte 1 David Yates merecera aplausos pela calma na condução da narrativa e no desenvolvimento emocional dos personagens, aqui o diretor parece apostar quase que exclusivamente na ação. É em Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2 que tudo acontece, todos os ciclos são fechados. E, infelizmente, não é mais possível manter o tom contemplativo-angustiante do filme anterior. É bem verdade que a ação de Yates jamais é excessivamente frenética e que o diretor continua abrindo espaço para momentos mais reflexivos, mas me parece pouco, diante do que foi feito em outros momentos da série - também incomoda a leveza com que Yates filma algumas mortes (exceção feita à de Snape), levando seus personagens a simplesmente se desmancharem no ar, em nada lembrando a brutalidade da história contada.

Se o fim de Harry Potter no cinema é digno, passa longe de ser tão memorável quanto se esperava. O que não deixa de ser um tanto decepcionante, vindo de uma série que, em seus melhores momentos, conseguiu (quem diria?) ser tão boa quanto O Senhor dos Anéis.


Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2 
Harry Potter and the Deathly Hallows - Part 2, 2011
David Yates