quinta-feira, 31 de março de 2011

Senna



Do fim de semana da Fórmula 1 em que Ayrton Senna morreu, guardava em minha memória duas imagens específicas, para além das já esperadas cenas do acidente com o piloto brasileiro: o carro de Rubens Barrichelo literalmente voando contra um muro no treino daquela sexta-feira e uma foto de jornal do acidente fatal com o piloto austríaco Roland Ratzenberger no sábado. Tinha apenas 7 anos de idade então e confesso que duvidava da veracidade dessas imagens, filmes velhos e esquecidos - mas sempre lembrados - que fazem parte de minhas lembranças daquele fim de semana macabro.

Nesse sentido, assistir ao documentário Senna trouxe para mim uma inesperada dose de catarse. Sim, Barrichelo realmente sofrera o acidente impressionante do qual me lembrava e a morte de Ratzenberger foi tão impactante quanto guardava em minha memória, mesmo que o filme não traga a foto da qual jamais esqueci (com o piloto, já sem capacete e todo ensaguentado, sendo atendido pelos paramédicos). Talvez a grande força de Senna esteja justamente em reproduzir para quem não viveu aqueles anos (ou viveu-os em tenra idade, como eu) não só o impacto da morte de seu personagem-título, mas principalmente o fascínio gerado pelo talento daquele sujeito, um tricampeão da Fórmula 1 capaz de momentos de pura genialidade na pista, que fizeram com que fosse considerado por muitos o maior piloto de todos os tempos (mesmo tendo conquistado menos títulos que, por exemplo, seu grande rival Alain Prost e o recordista absoluto Michael Schumacher). Estruturado sobre as disputas entre Senna e Prost (um grande acerto, diga-se de passagem), o filme de Asif Kapadia leva o espectador a torcer e se indignar com os meandros do esporte, mesmo se tratando de corridas célebres, das quais todos sabem o resultado. Sem parar nunca a ação para inserir imagens dos depoimentos colhidos na atualidade (estes surgem apenas em off), Kapadia constrói uma narrativa tensa e intensa, que consegue dimensionar perfeitamente a importância de Ayrton Senna, transformando-o num herói imperfeito que encontrou em Prost uma espécie de inimigo à altura (e apesar do piloto francês não ser demonizado pelo documentário, Kapadia claramente opta pelo lado do brasileiro).

Quando a trágica temporada de 1994 surge na tela - e, mais especificamente, o Grande Prêmio de San Marino daquele ano -, já estamos envolvidos demais para escapar da emoção causada pelas últimas imagens de Senna. Não é nem preciso ser brasileiro ou fã de Fórmula 1 para sentir o nó na garganta e as lágrimas escorrerem diante da morte do personagem-título. Basta admirar e saber reconhecer o bom cinema.


Atualização: no último domingo, dia 03/04, o cineasta Asif Kapadia fez a gentileza de divulgar meu texto sobre seu filme em sua página no Twitter. Fiquei verdadeiramente lisonjeado.


Senna 
Senna, 2010
Asif Kapadia

segunda-feira, 28 de março de 2011


[bravura indômita]

Bravura Indômita
True Grit, 2010
Ethan Coen & Joel Coen


Sejamos honestos: o Bravura Indômita original, que deu a John Wayne o Oscar de melhor ator em 1970, é um western bem meia-boca. Tem um clima de aventura despretensiosa, com personagens que, apesar de bem defendidos por seus intérpretes, não passam de estereótipos. Por isso, a nova versão da história conduzida pelos irmãos Coen é muito bem-vinda. Há remakes que são totalmente justificáveis, e esse é um deles - ainda que a dupla de cineastas não considerem seu filme como tal, mas simplesmente como uma nova adaptação do livro de Charles Portis. E o que os Coen conseguem realizar com esse material é qualquer coisa de impressionante.
Apesar de seguir quase de maneira exata a trama do longa de Henry Hathaway (somente o final é realmente diferente), o novo Bravura Indômita é, em sua essência, um filme completamente diverso. Dotado de uma melancolia que parece impregnar cada plano, o western dos Coen é uma obra que se erige sobre a relação entre sua dupla de protagonistas: o adorável beberrão de Jeff Bridges (muito melhor no papel que Wayne, diga-se de passagem) e a contagiante Mattie Ross da genial Hailee Steinfeld. Ainda que sempre se deliciando com os estereótipos que representam, Bridges e Steinfeld (e também Matt Damon) conseguem ir além destes, e construir personagens densos e comoventes. É difícil não se encantar com o trôpego relacionamento entre eles, identificação que é fundamental para o êxito da mais bela sequência do filme, uma longa, insana e dolorosa cavalgada/caminhada. Emocionante.
Há quem argumente que Bravura Indômita tem pouco do cinema dos irmãos Coen. Discordo. Estão lá a violência repentina que resulta em imagens impactantes e o humor negro incorrigível da dupla, ainda que em doses menores. Goste-se ou não, Bravura Indômita é um filme de Ethan e Joel Coen do primeiro ao último segundo. Que bom.

segunda-feira, 21 de março de 2011



[cópia fiel]

Cópia Fiel
Copie Conforme, 2010
Abbas Kiarostami


O status de veracidade é algo muito valorizado pelo grande público quando vai ao cinema. Quem nunca se deparou com alguém dando maior valor a um filme por ser "baseado em fatos reais", ou, o que é mais forte ainda, por ser um documentário. Há mesmo quem acabe, inclusive, fazendo a diferenciação entre "filme" e "documentário", mesmo que sem refletir sobre o assunto, dotando o segundo de um grau maior de importância, por lidar com "imagens reais" e "pessoas reais". O cinema é feito de imagens em movimento, o que, por si só, já traz uma forte carga de realidade - mas um filme que se estrutura sobre o discurso do real acaba vendendo uma imagem de relevância que se torna quase incontornável e inquestionável.
Por isso, gosto bastante de obras que buscam borrar essa já tão tênue fronteira entre ficção e realidade. Jogo de Cena, de Eduardo Coutinho, é, nesse sentido, o melhor exemplo. Como classificar um filme como aquele? Uma história contada por quem a viveu é necessariamente mais "real" do que quando encenada por uma atriz? Até que ponto não vivemos, o tempo todo, encenando pequenas histórias? Bem, o filme de Coutinho é absolutamente fascinante, e uma experiência que deve ser vivida, principalmente por quem ainda teima em estabelecer hierarquias entre o que são, simplesmente, gêneros cinematográficos.
E tudo isso também vale para esse impressionante Cópia Fiel, do cineasta iraniano Abbas Kiarostami. A discussão é bem próxima à proposta por Coutinho: até que ponto uma história encenada é menos verdadeira que uma história real? Só que, como Kiarostami trabalha o tempo todo com um registro ficcional (ao contrário de Jogo de Cena, que era, a princípio, um documentário), a questão se torna ainda mais fascinante. A rigor, ali, só há encenação. E o que o diretor propõe é a passagem para a estrutura dramática de seu filme do debate intrínseco à narrativa, travado pela dupla de protagonistas, acerca da equidade entre o valor de uma obra de arte "original" e suas cópias. Assim, em determinado momento de Cópia Fiel, os personagens de Juliette Binoche e William Shimell, dois estranhos que acabaram de se conhecer, passam a agir como um casal que está junto há 15 anos e vivendo uma séria e dolorosa crise conjugal. São encarnações diferentes de personagens diversos que se sobrepõem. Ambas as "histórias" são ficcionais, são encenações de atores na frente de uma câmera. Entretanto, há por parte do espectador uma tendência a enxergar, seguindo a verossimilhança interna de uma narrativa fílmica, a primeira "versão" dos personagens como sendo original e a segunda como algum tipo de jogo estabelecido por eles. Mas por quê, se, novamente, o que temos diante dos olhos é, o tempo todo, um par de excepcionais atores interpretando personagens? E mais: se a segunda "versão" dos personagens é tão poderosa dramaticamente (muito mais que a "original"), por que deve ser considerada uma cópia, uma deformação que não se leva a sério, uma brincadeira? Afinal, sem essa força dramática, sem toda a dor passada por Binoche e Shimell em seus longos olhares silenciosos, Cópia Fiel provavelmente não seria o filme maravilhoso que é. Realidade e ficção, original e cópia, são, no fundo, todas partes de um mesmo e doloroso drama humano.

sábado, 19 de março de 2011


[passe livre]

Passe Livre
Hall Pass, 2011
Peter Farrelly & Bobby Farrelly


Não estou entre aqueles que conseguem enxergar no cinema dos irmãos Farrelly algo de genial, transcedental. Não acho que filmes como Débi & Lóide, Kingpin - Esses Loucos Reis do Boliche, Quem Vai Ficar com Mary? e Eu, Eu Mesmo e Irene mereçam ser chamados de obras-primas, por mais que sejam, de fato, muito engraçados - são apenas boas comédias, bons exemplos de como se fazer um besteirol competente.
Por outro lado, devo assumir que há algo no trabalho dos Farrelly que me encanta: sua capacidade de abusar da grosseria, de sequencias e personagens que beiram o grotesco, indo muito além da costumeira caretice do cinema de comédia produzido em Hollywood. Se não têm o humor sarcástico das grandes comédias britânicas, ao menos os filmes dos Farrelly são suficientemente ousados para ultrapassarem os limites do "bom gosto", chateando os imbecis de plantão. Com Passe Livre não é diferente. O que poderia ser uma obra convencional, carregada de clichês e moralismos acerca de dois amigos que ganham liberdade de seus casamentos por 1 semana, nas mãos da dupla de diretores se torna um filme carregado de um humor agressivo, que não se preocupa nem um pouco em ser bem comportado ou politicamente correto. Assim, se um personagem é salvo por dois homens nus de se afogar em uma sauna, podemos ter certeza de que os Farrelly farão piada com o tamanho de seus órgãos genitais, filmando-os sem nenhum pudor. O mesmo vale para a hilária sequência da masturbação no carro, onde os diretores aumentam a duração da cena de forma quase sádica, tornando ainda mais ridícula a situação vivda por um de seus protagonistas (vivido pelo ótimo .
O melhor de tudo nos filmes dos irmãos Farrelly é que esse excesso de grosseria e "mau gosto" serve sempre a filme genuinamente engraçados. Eles possuem esse talento de arrancar risos (ou melhor, gargalhadas) do espectador em situações que, se conduzidas por outros cineastas, dificilmente soariam tão engraçadas. E como é bom rir sem limites ou preocupações - e melhor ainda é continuar lembrando e rindo das situações insanas mostradas pelos Farrelly em Passe Livre.


P.S.: Os irmãos Farrelly também merecem elogios pelo casting do sempre ótimo Richard Jenkins num papel, no mínimo, inusitado. Aí sim até senti vontade de chamá-los de gênios...

quarta-feira, 9 de março de 2011


[bruna surfistinha]

Bruna Surfistinha
Bruna Surfistinha, 2011
Marcus Baldini


Antes de qualquer coisa, há de se reconhecer que Bruna Surfistinha tem um grande mérito: trazer de volta ao "cinemão" brasileiro o sexo, outrora tão comum em nossos filmes, mas cada vez mais esquecido em tempos de obras exageradamente comportadas. Para quem, como eu, se irrita ao ouvir pataquadas do tipo "o cinema brasileiro agora está melhorando, porque antes só tinha putaria", o filme do estreante Marcus Baldini é um deleite. Por mais que não chegue a extremos, Bruna Surfistinha é razoavelmente despudorado, especialmente em comparação com a maioria dos filmes nacionais desse porte.
No entanto, também é difícil não reconhecer a pontinha de frustração deixada pela cinebiografia da garota de programa mais famosa do Brasil. Penso, ao contrário daqueles que esbravejaram contra o financiamento público ao filme de Baldini, que a história de Bruna Surfistinha tinha potencial para gerar um filme verdadeiramente grande. Durante a primeira metade do longa, essa promessa parece prestes a se realizar: é um drama maduro, com olhar delicado e cuidadoso para sua protagonista (por sinal, muito bem defendida por Deborah Secco), que trabalha num registro minimalista, sem grandes rompantes de melodrama - todas as cenas passadas na casa onde Bruna se prostitui são irretocáveis. Até os momentos iniciais da ascensão da personagem ao estrelato, Bruna Surfistinha parece um O Céu de Suely feito para o grande público. Entretanto, o roteiro do trio José de Carvalho, Homero Olivetto e Antônia Pellegrino se entrega, em sua meia hora final, à necessidade boba de compor um arco dramático que leve a protagonista ao "inferno" para depois, resgatada, deixar sua mensagem de superação gravada em quem assiste ao filme. Até onde sei, parece que a verdadeira Bruna passou mesmo por dificuldades num determinado momento de sua vida, provenientes principalmente de seu vício em cocaína (exatamente como o filme busca mostrar). O problema é que, na narrativa de Bruna Surfistinha, tudo isso ocorre de forma muito acelerada, brusca, o que soa gratuito, como mero artifício dramático para produzir algum conflito na trama. Nesse ponto, faltou cuidado aos roteiristas e a Baldini, e o filme, então, desce ladeira abaixo.
É bem verdade que a cena final entre a protagonista e o adorável personagem de Cássio Gabus Mendes é bonita, e que encerrar o filme com "Fake Plastic Trees" faz com que sejamos lançados para fora do cinema com a sensação de ter visto algo de imensa beleza (não há como resistir aos efeitos do Radiohead...). Mas, na realidade, a impressão de que uma ótima oportunidade de se produzir um filme memorável foi perdida é forte demais para ser simplesmente apagada. Talvez, no fim das contas, Baldini não fosse o melhor nome para a direção de Bruna Surfistinha. Karim Ainouz faria miséria com uma história dessas...

sábado, 5 de março de 2011


[as 10 maiores injustiças no oscar de melhor filme]

Aproveitando a frustração generalizada com a vitória de O Discurso do Rei no Oscar, domingo passado, resolvi relembrar algumas das maiores injustiças cometidas pela Academia na categoria principal de sua premiação. Montar uma lista como essa não é tarefa fácil - são muitas injustiças em mais de 80 anos de Oscar. Mas eu tentei.


10- Uma Mente Brilhante derrota O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel no Oscar 2002


O drama biográfico bem construído, mas cheio de clichês, dirigido por Ron Howard frustrou meio mundo ao derrotar o primeiro filme da trilogia O Senhor dos Anéis. Ao invés de premiar o filme do momento, aquele do qual todos estavam falando, a Academia preferiu o tradicionalismo de Uma Mente Brilhante. A chance de se redimir com o gênero aventura foi perdida - adiada, na verdade, até a vitória de O Retorno do Rei, dois anos depois.


9- O Discurso do Rei derrota A Rede Social no Oscar 2011


Precisa falar alguma coisa?


8- Chicago derrota Gangues de Nova York no Oscar 2003


Chicago é um musical bacana. Mas bateu de frente com a potência em forma de filme chamada Gangues de Nova York, um retorno furioso de Martin Scorsese ao centro das atenções em Hollywood. A Academia, entretanto, preferiu celebrar um suposto retorno dos grandes musicais - que, verdade seja dita, nunca aconteceu. Uma pena, ainda mais se lembrarmos que, além da obra-prima de Scorsese, também concorria a melhor filme o belíssimo e doloroso O Pianista, de Roman Polanski.


7- Conduzindo Miss Daisy derrota Nascido em 4 de Julho no Oscar 1990


Esse é um daqueles casos que, olhando com distanciamento temporal, fica difícil entender o porquê de ter acontecido. Conduzindo Miss Daisy é um drama nobre, bonitinho, com dois protagonistas excelentes. Mas, naquele ano, Oliver Stone havia acertado novamente com um arrasador filme sobre um ex-combatente do Vietnã que, paraplégico, passa por um processo de auto-conscientização acerca do significado da guerra. Tom Cruise entregou o desempenho de sua carreira, mas deu o azar de concorrer com Daniel Day-Lewis por Meu Pé Esquerdo. Tudo bem, derrota compreensível. Mas Nascido em 4 de Julho merecia o prêmio principal. Era o filme dramaticamente mais impactante do ano (e um dos melhores da década). Mas, novamente, o conservadorismo chato da Academia marcou presença.


6- Shakespeare Apaixonado derrota O Resgate do Soldado Ryan no Oscar 1999


O Oscar 1999 foi provavelmente o mais bizarro de todos os tempos. Roberto Benigni levou melhor ator, Gwyneth Paltrow melhor atriz, A Vida é Bela filme estrangeiro, e, para coroar a bizarrice, Shakespeare Apaixonado foi eleito o melhor filme. Na verdade, O Resgate do Soldado Ryan nem era o melhor dentre os indicados, afinal, a obra-prima Além da Linha Vermelha estava presente, de forma surpreendente. Mas a indicação de Terrence Malick era muito mais uma homenagem ao seu retorno, e seu filme não tinha chances reais de ser premiado. Já o poderoso drama de guerra de Spielberg estava no páreo - era, na verdade, o natural favorito. Porém o poder do marketing agressivo da Miramax emplacou novamente, e a criativa comédia romântica de época dirigida por John Madden (quem?) acabou vencedora.


5- Rocky derrota Taxi Driver no Oscar 1977


A vitória de Rocky sobre Taxi Driver é o tipo de coisa que não dá para levar muito a sério. Tudo bem que o primeiro filme sobre o boxeador que definiu a carreira de Stallone não é ruim - é bem menos ofensivo que suas continuações -, e tem lá seus méritos. Mas Taxi Driver... bem, ao invés de me deter nas qualidades dessa obra-prima de Scorsese (mais uma!), vou lembrar que, no Oscar 1977, também estavam indicados a melhor filme os excelentes Rede de Intrigas e Todos os Homens do Presidente.


4- Carruagens de Fogo derrota Reds no Oscar 1982


É bem provável que quase todo cinéfilo ache que o verdadeiro merecedor do Oscar de melhor filme nesse ano era Os Caçadores da Arca Perdida. Também adoro o primeiro filme de Indiana Jones, que considero como uma das melhores aventuras da história do cinema. Mas o maior injustiçado pela vitória inexplicável de Carruagens de Fogo em 1982 é mesmo o drama épico-histórico Reds, dirigido por Warren Beatty. Grandioso, comovente, apaixonante, o filme de Beatty poderia tranquilamente ter sido comandado por David Lean, pois não faz feio ao lado de seus mais célebres épicos (Lawrence da Arábia e Dr. Jivago, por exemplo). E Carruagens de Fogo? Bem, o prêmio de melhor trilha sonora para a inesquecível música-tema de Vangelis já estaria de bom tamanho.


3- Kramer vs. Kramer derrota Apocalypse Now no Oscar 1980


É difícil acreditar que um dos maiores clássicos do cinema norte-americano perdeu o Oscar de melhor filme para um drama familiar que narra a disputa de um casal pela guarda de seu filho pequeno. Tudo bem que eram Dustin Hoffman e Meryl Streep que interpretavam os protagonistas - e celebrar as atuações de Kramer vs. Kramer era algo totalmente aceitável. Mas esnobar um filme do porte de Apocalypse Now é coisa de louco mesmo. Talvez a Academia considerasse que Coppola já havia sido premiado demais...


2- Crash derrota Brokeback Mountain no Oscar 2006


Essa é uma injustiça bem mais recente, mas que entrou para a História. Sou daqueles que sentiram vontade de quebrar a televisão quando Jack Nicholson anunciou a vitória de Crash. Mesmo se o bom drama de Paul Haggis não tivesse todos os problemas que tem, a derrota de Brokeback Mountain seria injustificável. Faltou timing à Academia, que deixou de premiar o filme mais celebrado, comentado e importante do ano (e da década, talvez), para tentar, de forma meio tacanha, parecer moderna, ao escolher uma obra com narrativa fragmentada e temática séria. Soou, no fim das contas, como conservadorismo e homofobia.


1- Gente como a Gente derrota Touro Indomável no Oscar 1981


Martin Scorsese é geralmente preterido pela "bola da vez". Foi assim quando Taxi Driver perdeu para Rocky, quando Os Bons Companheiros perdeu para Dança com Lobos, quando Gangues de Nova York perdeu para Chicago. Mas nenhuma derrota foi mais injusta que essa aqui. Touro Indomável, a obra máxima do diretor nova-iorquino, o balé sangrento em preto-e-branco protagonizado por um alucinado Robert De Niro, o filme que mais amo no mundo, perdeu para um drama familiar (um pouco melhor que Kramer vs. Kramer) dirigido por Robert Redford. Gente como a Gente é um ótimo filme, na verdade. Poderia ter vencido em qualquer outro ano. Mas não naquele. Não em cima de Touro Indomável. Imperdoável.