quinta-feira, 11 de outubro de 2012


[festival do rio - parte 5]

Dossiê Jango 
Dossiê Jango, 2012
Paulo Henrique Fontenelle


Já faz um tempo que a ditadura militar brasileira - e temas correlatos a ela - se transformou em temática cara ao cinema documental produzido em nosso país, e a abordagem que geralmente surge nesses filmes é um tanto questionável. A historiografia contemporânea avançou muito em debates sobre questões como a participação da sociedade na ditadura (chamada, por alguns, de civil-militar) e as motivações político-ideológicas dos grupos que optaram por pegar em armas contra o regime, mas o cinema ainda parece preso a um olhar memorialístico, militante e pouco problematizador. É um cinema "histórico" que, ao invés de propor a discutir questões, mantém-se preso à prática de biografar grandes personagens. Não à toa, raramente se encontra nesses filmes depoimentos de historiadores atuais, conhecidos por renovarem os estudos sobre o período: é em figuras como Jacob Gorender e Moniz Bandeira que os cineastas vão buscar uma voz de autoridade. 
Dossiê Jango, de Paulo Henrique Fontenelle, se insere nessa tendência, ainda que rompa com ela em alguns pontos. Sempre que busca construir um olhar mais macro sobre os anos da ditadura, o filme de Fontenelle cai em lugares-comuns: caracteriza o regime militar como algo alienígena, completamente desvinculado da sociedade brasileira (e basicamente imposto pelos interesses norte-americanos no continente), seguindo um caminho que se aproxima mais da memória que se buscou construir sobre aquele período do que das mais avançadas pesquisas históricas. No entanto, Dossiê Jango tem o mérito de ir além da simples biografia do ex-presidente (algo que, afinal, já foi feito com qualidade por Sílvio Tendler em Jango, há quase trinta anos), vinculando-se a uma espécie de cinema documentário investigativo, com uma trama envolvente e teorias conspiratórias bem desenvolvidas. Ainda assim, o filme não consegue escapar totalmente da vala comum dos olhares maniqueístas sobre os anos da ditadura militar. Cinema não é história, claro, mas me parece inegável que aquele teria muito a ganhar com algumas discussões complexas e fascinantes propostas por esta recentemente. 

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