terça-feira, 26 de março de 2013

A Saga Crepúsculo



Entre 2008 e 2012, adolescentes histéricas e gente pouco exigente lotaram os cinemas de todo o mundo para acompanhar a tal Saga Crepúsculo, que chegou ao fim há alguns meses com um episódio tão constrangedor quanto os anteriores. Falo de gente pouco exigente porque me assusta o fato de existirem pessoas sérias (não estou falando dos fãs alucinados de Stephenie Meyer) que consideram bom algum  dos cinco filmes dessa malfadada saga. Eles não o são. Talvez o primeiro, Crepúsculo, guarde alguma qualidade em sua simplicidade - mas também pode ser que eu esteja alimentando uma lembrança razoavelmente positiva do filme de Catherine Hardwicke na comparação com o desastre completo de tudo que veio depois.

Nomes como Hardwicke (de Aos Treze), Chris Weitz (de Um Grande Garoto), David Slade (de 30 Dias de Noite, um ótimo filme de vampiros) e Bill Condon (do maravilhoso Deuses e Monstros) passaram pela franquia e não conseguiram produzir nada além de obras medíocres, com personagens desinteressantes, falas constrangedoras, tramas ocas e atuações sofríveis. Há quem argumente que os filmes não têm culpa, já que seguem de maneira bem próxima os livros de Meyer. Para esses, respondo: vocês nunca ouviram falar em Alfred Hitchcock e em sua máxima de que livros ruins dão os melhores filmes? Basta adaptá-los! Basta mexer na história, mudar o que for necessário, criar personagens novos, suprimir outros que não têm importância... E que se danem as fãs!

Mas não foi isso que aconteceu e a suposta ruindade do material original (chamo de "suposta" por não ter lido os livros de Meyer) se sobrepôs a esses diretores bem razoáveis (Condon, em particular, é verdadeiramente talentoso e, curiosamente, entregou aqueles que são, possivelmente, os dois piores filmes da saga) e elenco que conta com um ou outro nome interessante (Pattinson e Stewart, por exemplo, demonstraram competência em Cosmópolis e Na Estrada, respectivamente), o que é uma pena. Não cobro da Saga Crepúsculo o nível de seriedade e complexidade dos grandes filmes da história do cinema. Cobro da Saga Crepúsculo qualidade dentro de seu nicho, qualidade presente em outros exemplares recentes deste, como Harry Potter e Jogos Vorazes.


Crepúsculo 
Twilight, 2008
Catherine Hardwicke

A Saga Crepúsculo: Lua Nova 
The Twilight Saga: New Moon, 2009
Chris Weitz

A Saga Crepúsculo: Eclipse 
The Twilight Saga: Eclipse, 2010
David Slade

A Saga Crepúsculo: Amanhecer - Parte 1 
The Twilight Saga: Breaking Dawn - Part 1, 2011
Bill Condon

A Saga Crepúsculo: Amanhecer - Parte 2 
The Twilight Saga: Breaking Dawn - Part 2, 2012
Bill Condon


sábado, 23 de março de 2013

Armageddon


 

Há uma cena em Soldado Anônimo, de Sam Mendes, na qual soldados norte-americanos enviados para o Iraque, durante a Guerra do Golfo (1991), assistem Apocalypse Now e vibram alucinados com a sequência do ataque dos helicópteros comandados por Robert Duvall a um vilarejo vietnamita. Claramente, aqueles personagens do filme de Mendes não entenderam a obra-prima de Francis Ford Coppola. Revendo Armageddon, tive a sensação de que seu diretor, Michael Bay, sofre desse mesmo mau.

Responsável por outras preciosidades belicistas como a trilogia Transformers e o dramalhão Pearl Harbor, Bay parece usar seus filmes como mera desculpa para destilar seu ufanismo insuportável, manifestado especialmente num indisfarçável encanto e empolgação com o poderio militar norte-americano. Armageddon é sobre um meteoro gigantesco prestes a colidir com a Terra e levar a humanidade à extinção, mas, ainda assim, o diretor consegue fazer do filme uma peça de propaganda da grandiosidade da América e da mentalidade imperialista tacanha de parte de sua sociedade. Bandeiras azuis, vermelhas e brancas tremulam desavergonhadas por todo o filme e a ideologia do "sou um americano cowboy bad-ass", encarnada particularmente pelo personagem de Bruce Willis, predomina na narrativa. Há comentários sobre os poucos recursos que o governo destina para a indústria bélica, um discurso de Willis, à frente de uma bandeira norte-americana, sobre a importância da família para aquelas figuras toscas, e um olhar grandioso para cada objeto da NASA ou das Forças Armadas. Sutileza é palavra inexistente no dicionário do sr. Bay.

Outra coisa que assusta, e que torna Armageddon" um filme realmente ruim (já que obras-primas cinematográficas politicamente nojentas são possíveis), é a incapacidade que Michael Bay tem de sentar na cadeira de diretor e fazer um trabalho minimamente digno. Oriundo do universo dos videoclipes, o sujeito tem uma dificuldade imensa de manter sua câmera parada, por 5 segundos que seja, ou de construir um plano que dure algo próximo disso. Com tantos cortes e tremeliques, é difícil não chegar zonzo ao fim de Armageddon, um longa que, para completar, ainda tem atuações sofríveis, diálogos constrangedores e a pior história de amor da história do cinema (entre Ben Affleck e Liv Tyler). Resta a vergonha de um dia, há muito tempo, ter adorado esse abacaxi em forma de filme. 


Armageddon 
Armageddon, 1998
Michael Bay