quarta-feira, 17 de julho de 2013

O Homem de Aço



Devo estar ficando velho, rabugento e nostálgico, porque a maior parte das coisas boas que o grande público vem enxergando em O Homem de Aço para mim não passam de pirotecnia barata e preguiçosa e de excesso de pretensão. Trazer Superman para o "mundo real" é uma premissa arriscada e possivelmente equivocada mas, se é disso que o povo gosta atualmente, nada mais coerente que ter Christopher Nolan no roteiro e na produção. O problema é que Nolan é um sujeito cada vez mais megalomaníaco (alguém ainda se lembra que foi ele quem escreveu e dirigiu o pequeno e ousado Amnésia?) e pouco ajuda entregar a direção de um filme como esse para Zack Snyder, outro adorador de espetáculos visuais grandiosos. O resultado do encontro é desastroso e até estranho: O Homem de Aço não tem a sobriedade de um Batman Begins e tampouco os histrionismos estéticos de outras adaptações de quadrinhos comandadas por Snyder, como 300 e Watchmen. Na verdade, o filme parece um Transformers sem robôs gigantes (ainda que as naves kryptonianas possam assumir esse papel), com suas cenas de ação frenéticas e intermináveis, que praticamente levam Metrópolis ao chão. Quando o confronto entre Superman e Zod chega ao fim, dá até vontade de perguntar: Michael Bay passou por aqui? 

É verdade que há coisas boas no longa: a primeira metade da narrativa flui bem, com os constantes flashbacks típicos do cinema de Nolan ajudando na construção da personalidade de Clark Kent; o elenco é quase todo competente, sendo Kevin Costner o destaque absoluto, em sua pequena e comovente participação; e Snyder consegue criar um ou outro momento icônico (a morte de Jonathan Kent, a primeira aparição do Superman, a conclusão do confronto entre o herói e Zod, Clark criança posando com uma capa vermelha improvisada). Mas todos esses pequenos acertos não fazem cócegas no gigante desastrado que é O Homem de Aço, um filme que engana bem com a promessa de ser uma história dedicada aos seus personagens, até o momento em que a sanha destruidora de seus realizadores entra em cena para encobrir essa promessa com grandes quantidades de poeira, destroços e barulho. 


O Homem de Aço 

Man of Steel, 2013
Zack Snyder

sábado, 6 de julho de 2013

Videogramas de Uma Revolução




O que mais impressiona em Videogramas de uma Revolução é como os envolvidos no movimento que levou ao fim do regime comunista na Romênia em 1989 lutam desesperadamente pelas imagens do que estava acontecendo. Câmeras de vídeo pululam aqui e ali (vale lembrar, numa era anterior aos Iphones e Ipads), jornalistas bradam pela preservação da emissora estatal de tv, que é ocupada pelos revolucionários quase com o mesmo furor que eles tomam o palácio presidencial. Controlar as imagens transmitidas para a população significava, afinal, ditar os rumos do país. O ditador Nicolau Ceausescu e sua esposa Elena, capturados, julgados e executados, só morrem oficialmente quando têm seus corpos inertes mostrados numa televisão que, no filme, é filmada por uma outra câmera - que, por sua vez, é filmada por uma terceira câmera. É como se a história, na contemporaneidade, só pudesse existir quando registrada em imagens, algo que a voz que narra Videogramas de uma Revolução sintetiza perfeitamente ao dizer: "Desde sua invenção, o filme parece ter, como principal objetivo, tornar visível a História. Conseguiu mostrar o passado e pôr o presente em cena. Vimos Napoleão a cavalo e Lenin no trem. Foi possível inventar o filme porque havia história para contar. Sem que se percebesse, em dado momento a página foi virada. Ao ver o filme pensamos: se o filme é possível, então a História também é." 


Videogramas de uma Revolução 
Videogramme einer Revolution, 1992
Harun Farocki e Andrei Ujica

terça-feira, 2 de julho de 2013

Antes da Meia-Noite



Voltar à história de Jesse e Céline é uma decisão um tanto arriscada do diretor Richard Linklater, nove anos após encerrar Antes do Pôr-do-Sol ao som de Nina Simone e apontando para uma inevitável vida a dois. Antes da Meia-Noite, a terceira parte da jornada cinematográfica do casal interpretado por Ethan Hawke e Julie Delpy, reencontra os personagens um pouco mais envelhecidos, com duas lindas filhas e um casamento (nunca oficializado) aparentemente estável. Mas Linklater opta por inserir aí uma pequena crise, daquelas que começam com uma fagulha, uma oposição de ideias, e que vai tomando proporções catastróficas. "É a maldita rotina!", diriam muitos. Cada palavra dura de Céline para Jesse e cada comentário irônico de Jesse para Céline doem também no espectador, testemunha e cúmplice do nascimento desse amor que agora se esfacela diante dos seus olhos. Quase dá vontade de perguntar a Linklater com que direito ele estraga essa história de amor que também é nossa, questionamento ao que ele provavelmente responderia dizendo: "com o direito de alguém que, aos 53 anos de idade, sabe que a história não termina quando o sonho começa".

Mas fiquemos tranquilos, pois nem tudo é sofrimento em Antes da Meia-Noite: a saudade dos filmes anteriores é saciada com a volta dos longos planos tão característicos, dos diálogos espertos, recheados de ironia e referências culturais, as atuações despojadas de Hawke e Delpy, a doçura dos pequenos gestos que nos encantam nesses dois personagens. O novo filme de Linklater não é um Closer. Felizmente. O clima ainda é de leveza, aquele olhar terno para a vida continua presente, e a crença do diretor/roteirista em seus personagens ainda não morreu. A fagulha que se acendeu há dezoito anos, em Antes do Amanhecer, talvez ainda renda algumas chamas inesperadas em Jesse e Celine. Felizmente. Para eles e para nós.


Antes da Meia-Noite 
Before Midnight, 2013
Richard Linklater