domingo, 17 de novembro de 2013

Capitão Phillips



Paul Greengrass parece tentar se consolidar como uma espécie de cineasta-historiador do tempo presente, abordando em seus filmes temas políticos relevantes do mundo pós-11 de setembro. Foi assim no espetacular Voo United 93, ainda o melhor retrato cinematográfico daquela fatídica manhã de 2001, no bom Zona Verde, que apresenta com viés crítico a invasão do Iraque pelos Estados Unidos e a busca de um militar pelas alardeadas (e inexistentes) armas de destruição em massa de Saddam Hussein, e agora em Capitão Phillips, sobre a ameaça pirata nas costas africanas.

O que Greengrass tenta fazer nesse seu novo filme é retornar ao cinema praticado em Voo United 93, deixando de lado o discurso militante de Zona Verde e apostando numa aproximação maior com os dramas pessoais de seus personagens. A estratégia é chegar ao grande tema através de um olhar micro, que acompanha, com a câmera nervosa que caracteriza os filmes do diretor, o protagonista (Tom Hanks, em boa atuação) tendo de lidar com o sequestro do navio que comanda por piratas somalis. Na primeira metade de Capitão Phillips, o êxito de Greengrass é quase total: o filme é tenso, daqueles de agarrar os braços da poltrona do cinema, da sequência de perseguição em alto mar até o momento em que os piratas deixam o navio com o personagem de Hanks como refém.

A partir daí, as coisas desandam. O diretor erra ao transformar seu filme num thriller esteticamente óbvio, que martela tensão na cabeça do espectador através do aumento do número de cortes e do volume da trilha sonora. O clima de ação pela ação leva Capitão Phillips a flertar perigosamente com o enaltecimento da atuação dos Navy Seals, com seu gigantesco aparato tecnológico, diante da presença quase arcaica dos bárbaros piratas somalis. Os primeiros são os salvadores da pátria; os segundos, os inevitáveis vilões do filme. Com certeza Greengrass, cara inteligente que é, pretendeu passar outra impressão - o que a dolorosa cena em que Muse (o ótimo Barkhad Abdi), líder dos piratas, é enganado e dominado pelos militares norte-americanos talvez indique. Mas com sua excessiva preocupação em construir um thriller de dar nos nervos, acabou fazendo algo não muito diferente do que Michael Bay ou Roland Emmerich fariam com uma história como essa.


Capitão Phillips 

Captain Phillips, 2013
Paul Greengrass

Nenhum comentário: