quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Maïdan: Protestos na Ucrânia



Samuel Fuller disse certa vez que o cinema é um campo de batalha. Com Sergei Loznitsa nesse Maïdan: Protestos na Ucrânica, tal afirmação ganha literalidade: o diretor bielorrusso leva sua câmera para o meio das manifestações contra o governo ucraniano entre o segundo semestre de 2013 e o primeiro de 2014, filmando tanto o cotidiano dessa espécie de comunidade alternativa formada no meio de Kiev quanto seus enfrentamentos com a polícia. Não há narração em off, não há entrevistas. Há apenas alguns poucos letreiros explicativos e uma vontade imensa de registrar a História acontecendo. Nesse sentido, lembra bastante o excelente Videogramas de uma Revolução, de Harun Farocki e Andrei Ujica, que acompanha a derrubada de Nicolau Ceausescu do poder na Romênia.

Conheci o cinema de Loznitsa há pouco tempo, por meio de seus dois premiados filmes de ficção: Minha Felicidade (2010) e Na Neblina (2012). Sei que o diretor construiu quase toda sua carreira no cinema documentário, mas não é preciso recorrer a essa produção para entender o lugar de Maïdan em sua filmografia. Naquelas duas porradas em forma de filme, Loznitsa apresenta a luta pela sobrevivência de valores humanos em meio a um mundo sovietizado e autoritário que tende à barbárie. Nesse sentido, os ucranianos que foram às ruas lutar pelo afastamento de seu país (ex-república soviética) das políticas de Moscou estão, para Loznitsa, ao lado dos protagonistas de Minha Felicidade e Na Neblina, funcionando como pequenos faróis de humanidade e liberdade em meio à escuridão do autoritarismo e da violência.

Daí a ausência de complexificação do movimento anti-Rússia na Ucrânia: não há uma referência sequer à participação de grupos de extrema-direita nele, por exemplo. A Loznitsa interessa contribuir de alguma maneira com sua câmera para a ruína de um velho mundo, o mundo soviético. Maïdan cumpre muito bem essa tarefa.



Maïdan: Protestos na Ucrânia 
Maïdan, 2014
Sergei Loznitsa