quinta-feira, 15 de outubro de 2015

A Travessia



O oscarizado documentário O Equilibrista (2008), de James Marsh (mesmo sujeito que realizaria, alguns anos depois, o insuportável A Teoria de Tudo), já contara as façanhas do francês Philippe Petit, que Robert Zemeckis revisita agora em A Travessia. No entanto, se aquele ótimo filme parecia limitado por certas convenções de uma maneira meio televisiva de se tratar o gênero documentário (depoimentos, imagens de arquivo e reconstituições ilustrativas), A Travessia alça voo na liberdade que a narrativa ficcional lhe dá e na inventividade visual de seu diretor. Há no filme um toque de magia essencial a uma história protagonizada por Petit.

O tom farsesco, circense, do equilibrista francês, quase um ilusionista, casa perfeitamente com o cinema de Zemeckis (e com a atuação exagerada de Joseph Gordon-Levitt), também um mágico a seu próprio modo, diretor quase sempre preocupado em proporcionar ao espectador experiências visuais (construídas a partir de trucagens permitidas pela linguagem cinematográfica) acachapantes. Foi assim em De Volta para o Futuro, Uma Cilada para Roger Rabbit, A Morte lhe Cai Bem, Forrest Gump e mesmo em suas não tão bem-sucedidas experiências com a animação. Em A Travessia, Zemeckis faz uso de quantidades imensas de efeitos visuais e de um esplêndido 3D para nos colocar onde O Equilibrista não conseguia: ao lado de Petit realizando sua mágica de atravessar, por sobre um cabo, o espaço que separava as duas torres do World Trade Center. Por mais que as fotografias, imagens de arquivo e palavras do próprio Petit, no filme de Marsh, evocassem seu feito, estar no cabo com ele, vendo o que ele provavelmente viu lá de cima, é algo que só um cinema espetacular – e de ficção – como o de Zemeckis consegue proporcionar. Não à toa, é em seu longo epílogo que o filme, até ali apenas uma experiência ágil, agradável e divertida, se aproxima do sublime. 

A Travessia também é, mais até que O Equilibrista, uma bela homenagem ao símbolo de Nova York derrubado por terroristas em setembro de 2001. Aqui, outra vez, o filme de Zemeckis se sai melhor que o de Marsh: enquanto o documentário tinha a sua disposição apenas imagens de arquivo do World Trade Center, a ficção recria os prédios de maneira a torná-los uma imagem do presente, permanente, viva na tela. Quando essa vida começa a se desvanecer, no último plano do filme (após Petit sair de cena com um olhar de profunda dor), A Travessia deixa no espectador um nó na garganta difícil de ser desfeito.


A Travessia 
The Walk, 2015
Robert Zemeckis

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